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Vol. 42. Núm. 9.
Páginas 819-820 (Setembro 2023)
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In Memoriam
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Lino Gonçalves
Coimbra University Hospital, Cardiology Department, Coimbra, Portugal
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Prof. Doutor Luís Augusto Providência

A Sociedade Portuguesa de Cardiologia, a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra perderam, recentemente, uma das suas mais ilustres personalidades, o Senhor Prof. Doutor Luís Augusto da Costa Providência. Pela importância que este Mestre e Diretor do Serviço onde dei os primeiros passos na Cardiologia teve ao longo da minha formação profissional como clínico, como investigador e como académico, bem como pela proximidade que tive o privilégio de ter com ele e com a qual muito me honrou, decidi escrever este pequeno texto evocatório.

As minhas primeiras palavras são naturalmente de agradecimento à família do Senhor Prof. Doutor Luís Augusto Providência, na pessoa do seu filho Luís Nuno Providência, por nos ter facultado a fotografia anexa e por ter permitido a evocação e a homenagem à memória do seu pai.

Dizia com propriedade Carlos Drummond de Andrade que «Os homens são como as moedas; devemos tomá‐los pelo seu valor, seja qual for o seu cunho.» Ajuizemos pois o valor do Homem a quem prestamos hoje homenagem.

O Senhor Prof. Doutor Luís Augusto Pires da Costa Providência nasceu em Coimbra, bem perto da Universidade, na freguesia da Sé Nova, a 26 de junho de 1942. Filho de Aida Celeste Pires Providência e de Luís Moreira da Costa Providência, completou os ciclos de estudo pré‐primário, primário e secundário em Coimbra. Casou com a Senhora Dr.ª Isabel Maria Ranito Pessoa e desta união nasceram três filhos, a Catarina, o Luís Nuno e o Pedro, e quatro netos, a Maria, a Catarina, o António e o Francisco.

Licenciou‐se em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, em outubro de 1966, com a média final de 17 valores. Por convite do Senhor Prof. Doutor Mário Trincão, então Professor Catedrático e responsável pela disciplina de Patologia Médica, exerceu funções de 2.° Assistente nesta disciplina. Defendeu como tese de licenciatura o estudo sobre Tromboembolia Pulmonar designado Contribuiçãopara o seu estudo clínico, anátomo‐patológico eexperimental. Este estudo, realizado sob orientação do Prof. Doutor Mário Trincão, foi distinguido com o prémio Pfizer da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa. Em 1967, foi incorporado no exército para o cumprimento do serviço militar obrigatório, tendo sido destacado, em 1968, para Timor‐Leste. Regressou em março de 1970, retomando de imediato as suas funções de Assistente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Foi‐lhe concedida, em 1972, uma bolsa de estudo como Honorary ResearchAssistant no Serviço de Cardiologia Clínica do Hammersmith Hospital sob orientação do Professor John F. Goodwin. Para além de uma preparação em Cardiologia clínica, métodos não invasivos de diagnóstico, pacing cardíaco e avaliação invasiva da patologia cardíaca, complementou a sua formação em métodos invasivos no St. Thomas Hospital, sob a orientação dos Drs. Michael Webb e do Dr. B.S. Jenkins. Foi, em 1974, que o Senhor Prof. Doutor Luís Augusto da Costa Providência fez o seu exame final do Internato Complementar de Cardiologia, mantendo a função de Assistente, desta feita, da disciplina de Terapêutica Médica.

Em 1977, por concurso, foi nomeado Especialista de Cardiologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra e, em 1979, por provas prestadas, passou a ocupar o lugar de Chefe de Serviço nesse mesmo hospital. Em 1977, o Licenciado Luís Augusto Providência foi aprovado por unanimidade, com distinção e louvor, nas suas provas de Doutoramento em Medicina na Universidade de Coimbra. Para o efeito apresentou a dissertação que intitulou de Trombose venosa e tromboembolia pulmonar. Contribuição para o seu estudo anátomo‐patológico. Em 1979, foi aprovado em concurso público para Professor Associado da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Em 1983 realiza provas de agregação. Dizia o poeta Gabriel Celaya na sua obra Poesia urgente «Ser homem é ter uma história, e não ser pura natureza. Ser homem é saber que o mundo não foi dado, mas que se cria». A par da sua intensa atividade docente e de investigador, a actividade clínica do Professor Luís Providência foi caraterizada pela criação, nos Hospitais da Universidade de Coimbra e na Região Centro do País, de práticas inovadoras, relativas ao Pacing Cardíaco Transvenoso e Hemodinâmica. Em 1978, é nomeado responsável pelo Setor de Hemodinâmica dos HUC estando associado ao início e desenvolvimento desta importante área da cardiologia invasiva e intervencionista. Em 1990, o Professor Luís Augusto Providência assumiu a Cátedra de Cardiologia e a Direção do Serviço de Cardiologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra. A dinâmica que lhes imprimiu e de que são exemplo a criação da Unidade de Tratamento da Insuficiência Cardíaca Avançada (UTICA), a Unidade de Investigação Básica em Cardiologia e a Unidade de Investigação Clínica em Cardiologia (UICC), granjeou‐lhe a consideração dos seus pares e a projeção nacional e internacional do seu perfil como cardiologista e como homem de ciência. Fica assim bem patente o papel de Luís Providência, em prol da Investigação e da Clínica em Cardiologia, não só na Universidade como também a nível hospitalar.

Para além de tudo isto, teve também um papel intensamente interventivo na Educação Médica ao integrar a Comissão Interministerial de Revisão do Ensino Médico e o Grupo de Trabalho para a Revisão do Ensino Médico. Ocupou, na sua Faculdade, vários cargos de grande responsabilidade, como seja a Presidência do Conselho Pedagógico e do Conselho Diretivo da Faculdade de Medicina. Foi ainda Presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia e do Colégio da Especialidade de Cardiologia da Ordem dos Médicos. Desenvolveu em simultâneo com a sua carreira clínica e académica uma brilhante carreira internacional como Membro da Sociedade Europeia de Cardiologia, inicialmente como Conselheiro da Direção e posteriormente como Vice‐Presidente desta Sociedade. Foi ainda membro de diversas sociedades científicas Nacionais da Especialidade bem como da Academia Portuguesa de Medicina. Integrou o Editorial Board do EuropeanHeart Journal e a Comissão Científica da RevistaPortuguesa de Cardiologia. Publicou mais de duzentos títulos ao longo da sua profícua carreira científica e pedagógica. Era, para além de tudo isto, nos seus tempos livres, um apaixonado pela música clássica. Toda a sua extraordinária carreira sempre foi acompanhada de perto por seu pai, Luís Moreira da Costa Providência, de quem foi um ouvinte atento e constante da sua palavra sábia e experiente e que por isso teve uma forte influência nele ao longo da sua vida.

Dizia na antiguidade em textos judaicos do Talmude babilónico o autor Nedarim que «O bom homem promete pouco e faz muito; o mau promete muito e não faz nada.» O Senhor Prof. Doutor Luís Augusto Providência, ao longo da sua carreira profissional como Clínico, como Professor e como Cientista, prometeu pouco e fez muito. Por isso, todos nós que privámos com ele estamos gratos pelo privilégio que tivémos de o ter conhecido e de com ele termos aprendido e desenvolvido as nossas carreiras sob a sua sábia supervisão. Agradecemos ao Senhor Prof. Luís Providência todo o apoio com que nos quis presentear e honrar. A ele todos nós devemos muito do que somos hoje e tal como Isaac Newton um dia disse: «Se algum dia conseguir ver mais longe, foi porque me sentei nos ombros dos gigantes que me antecederam.»

É redutor pensar que os grandes Mestres são estritamente avaliados pela obra que desenvolveram. Na verdade, os grandes Mestres refletem‐se igualmente naqueles que ajudaram a formar e naqueles que influenciaram, mas também nos seus alunos, nos seus colegas e nos seus amigos com quem privaram. A todos eles o Senhor Prof. Doutor Luís Augusto Providência deixou um legado que irá perdurar para sempre.

Concluo esta curta evocação do Professor que partiu e eu pretendi trazer – uma vez mais – ao nosso convívio e à vossa memória. Memória que perdurará na recordação da sua personalidade inigualável, no relembrar dos seus ideais e do seu modo de estar e, de algum modo, no percurso dos seus seguidores e colaboradores. Nada disto servirá para desvanecer a infinita saudade que todos nós experienciamos. Aos seus ilustres filhos e demais família, quero deixar aqui uma expressão plena da nossa tristeza e do nosso profundo desgosto pelo insubstituível vazio que todos nós em conjunto sentimos.

«Death ends a life, not a relationship» Mitch Albom

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