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Vol. 36. Núm. 10.
Páginas 755-756 (Outubro 2017)
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Pedro Canas da Silva
Unidade de Cardiologia de Intervenção, Serviço de Cardiologia, Hospital de Santa Maria, CHLN, CAML, Lisboa, Portugal
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Paulo Fonseca, João Almeida, Nuno Bettencourt, Nuno Ferreira, Mónica Carvalho, Wilson Ferreira, Daniel Caeiro, Helena Gonçalves, José Ribeiro, Alberto Rodrigues, Pedro Braga, Vasco Gama
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O tratamento percutâneo transcateter da estenose valvular aórtica constitui, seguramente, um dos mais notáveis progressos no tratamento das doenças cardíacas. Os seus resultados, repetidamente confirmados em estudos aleatorizados e comparativos com a substituição valvular aórtica cirúrgica clássica, ou em registos, em doentes de diversos graus de risco (desde proibitivo para a cirurgia, muito elevado, elevado ou moderado), permitem considerar que terá papel proeminente no futuro próximo. Existem ainda aspetos que necessitam aperfeiçoamento para obter ainda melhores resultados. Os problemas relacionados com o acesso vascular para bainhas de dimensões muito superiores às habitualmente utilizadas na cardiologia de intervenção constituem uma das principais causas de morbilidade, mortalidade e prolongamento dos tempos de internamento destes doentes.

Para além de apresentações em congressos de trabalhos oriundos de diversos centros, existem importantes publicações sobre este tema1–3.

Em geral, têm sido apontadas como principais causas para o aparecimento de complicações vasculares: a relação entre o tamanho da bainha e do vaso iliofemoral (ratio sheath‐ to iliofemoral artery ratio [SIFAR]) e o tamanho do vaso4, o grau de calcificação da parede vascular (calcium score), a tortuosidade e a presença de placas na parede5, a experiência e qualidade do operador (curva de aprendizagem)6,7, e finalmente, como o tempo do procedimento e aspetos específicos do doente caso do sexo feminino (maior risco).

A presente publicação apresenta os resultados do grupo pioneiro nesta técnica no nosso país, possuidor de vasta experiência nesta intervenção8. Referem‐se ao período compreendido entre 2007‐2014, com implantação de dispositivos de implantação por balão ou autoexpansíveis de diversas gerações.

São apresentadas as complicações vasculares aos primeiros 140 doentes tratados por via transfemural. Estes foram divididos em dois grupos de igual dimensão, e de acordo com a fase mais precoce (50%) ou mais tardia em relação ao início temporal desta intervenção no centro, para avaliação da curva de aprendizagem. O estudo prévio destes doentes está de acordo com as recomendações em vigor, com avaliação prévia por tomografia axial computorizada com contraste.

Os resultados basearam‐se na classificação das complicações de acordo com os critérios VARC‐29.

Embora tenham sido avaliadas todas as situações previamente referidas como fatores de risco para complicações vasculares, apenas o índice SIFAR mostrou correlação estatística significativa. Nenhuma das outras causas tradicionalmente referidas foi significativa.

Algumas poderão seguramente ser atribuídas à excelente preparação dos operadores e do cuidadoso treino dos mais jovens, e isto deverá ser motivo de reflexão para todos os outros centros que realizam este tipo de intervenção.

Outras parecem não ter explicação, nomeadamente a calcificação da parede, o grau de doença e tortuosidade do vaso. É possível que tal se deva a critérios de seleção muito estritos, excluindo doentes que noutros centros seriam tratados por esta via8. Seria interessante conhecer as percentagens de doentes intervencionados por outras vias. Também a variedade dos dispositivos (próteses valvulares autoexpansíveis ou expansíveis por balão) usados não parece ter efeito significativo, mesmo tendo em conta diferenças (pequenas) de calibre dos introdutores10.

Por último, será importante salientar que o número e gravidade das complicações vasculares se encontra dentro do apontado em estudos ou registos11,12, demonstrando a elevada qualidade dos autores.

Conflito de interesses

O autor declara não haver conflito de interesses.

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