Journal Information
Vol. 32. Issue 4.
Pages 359-360 (April 2013)
Share
Share
Download PDF
More article options
Visits
4404
Vol. 32. Issue 4.
Pages 359-360 (April 2013)
Recommended Article of the Month
Open Access
Comment on «Physical activity levels, ownership of goods promoting sedentary behaviour and risk of myocardial infarction: results of the INTERHEART study»
Visits
4404
Evangelista Rocha
Member of the Editorial Board of Revista Portuguesa de Cardiologia
This item has received

Under a Creative Commons license
Article information
Full Text
Bibliography
Download PDF
Statistics
Full Text

Physical activity levels, ownership of goods promoting sedentary behaviour and risk of myocardial infarction: results of the INTERHEART study.

C. Held, R. Iqbal, S.A. Lear, et al. Eur Heart J. 2012;33:452–66.

Abstract

Aims: To evaluate the association between occupational and leisure-time physical activity (PA), ownership of goods promoting sedentary behaviour, and the risk of myocardial infarction (MI) in different socio-economic populations of the world. Studies in developed countries have found low PA as a risk factor for cardiovascular disease; however, the protective effect of occupational PA is less certain. Moreover, ownership of goods promoting sedentary behaviour may be associated with an increased risk.

Methods: In INTERHEART, a case-control study of 10 043 cases of first MI and 14 217 controls who did not report previous angina or physical disability completed a questionnaire on work and leisure-time PA.

Results: Subjects whose occupation involved either light [multivariable-adjusted odds ratio (OR) 0.78, confidence interval (CI) 0.71-0.86] or moderate (OR 0.89, CI 0.80-0.99) PA were at a lower risk of MI, whereas those who did heavy physical labour were not (OR 1.02, CI 0.88-1.19), compared with sedentary subjects. Mild exercise (OR 0.87, CI 0.81-0.93) as well as moderate or strenuous exercise (OR 0.76, CI 0.69-0.82) was protective. The effect of PA was observed across countries with low, middle, and high income. Subjects who owned both a car and a television (TV) (multivariable-adjusted OR 1.27, CI 1.05-1.54) were at higher risk of MI compared with those who owned neither.

Conclusion: Leisure-time PA and mild-to-moderate occupational PA, but not heavy physical labour, were associated with a reduced risk, while ownership of a car and TV was associated with an increased risk of MI across all economic regions.

Comentário

Morris foi talvez quem primeiro analisou dados sobre a doença cardíaca isquémica e a atividade física, em estudos de homens numa variedade de ocupações/profissões, concluindo que a atividade física era protetora do enfarto do miocárdio e da morte súbita1,2. Estudos ocupacionais subsequentes confirmaram a sua independência de outros fatores possivelmente confundíveis3. Mais tarde, Paffenbarger, pioneiro na investigação da relação entre atividade física nos tempos livres e o risco de enfarto agudo do miocárdio, demonstrou uma relação dose-efeito inversa4. Outros estudos foram desenvolvidos com o objetivo de caracterizar a relação entre a atividade física e/ou o exercício físico e os benefícios para a saúde, mas poucos avaliaram a importância da atividade física relacionada com a sua ocupação/profissão e o tempo de lazer. Lopes et al., num estudo caso-controlo, analisaram a relação entre a atividade física de lazer ou desportiva e o risco de enfarto do miocárdio. Os resultados permitiram concluir que a relação foi positiva, protetora, mas esse tipo de relação não se verificou com as atividades profissionais/ocupacionais5. As dificuldades para interpretar as discrepâncias entre os resultados resultam de diferenças, sobretudo a nível metodológico, na medição e monitorização da atividade física total, isto é, ocupacional, tempo de lazer, serviço doméstico, atividades relacionadas com o transporte, nas características das populações, nas hipóteses testadas, etc6. De acordo com a evidência, a atividade física regular, ao longo da vida, tem benefícios para a saúde, quantificáveis, na redução da doença coronária, diabetes, alguns tipos de cancro e no aumento da esperança de vida7. As evidências justificam as diversas recomendações na área cardiovascular, diabetes, obesidade, etc.), mas, apesar disso, a inatividade física caracteriza aproximadamente um terço da população mundial8.

Num ano de Jogos Olímpicos, em que o Lancet publicou um conjunto de artigos sobre atividade física9, a escolha do artigo recomendado justifica-se porque o papel da atividade física, um dos mais fáceis, mais baratos e mais eficazes modos (estilo de vida) de evitar as unidades de cuidados coronárias, tem sido negligenciado. Esta inércia, segundo as estatísticas, é independente de a intervenção ser ao nível da prevenção primária ou secundária, incluindo a reabilitação, na maioria dos países, onde se inclui Portugal.

Este artigo vem na sequência do estudo INTERHEART10, publicado em 2004, um estudo caso-controlo em 52 países (262 centros), dos 5 continentes habitados, cujos dados permitiram calcular o efeito de fatores modificáveis associados ao enfarto do miocárdio. Coletivamente, o risco populacional atribuível a 9 fatores cuja relação causal com a doença coronária está bem estabelecida (tabaco, relação ApoA/ApoB, hipertensão, diabetes, obesidade abdominal, fatores psicossociais, consumo de frutas, vegetais e álcool, e atividade física regular) foi de 90% nos homens e 94% nas mulheres. Estes dados sugerem que as estratégias de prevenção se podem basear em princípios idênticos a nível mundial e têm o potencial de prevenir a maioria dos casos de enfarto do miocárdio prematuros. Concretamente, a atividade física regular diminuiu o risco de enfarto do miocárdio em cerca de 14% e o risco populacional atribuível por falta de atividade física era 12,2%. O estudo selecionado teve dois objetivos principais: a) analisar a associação entre a atividade física e os seus componentes (atividade no tempo de lazer e no trabalho) e o risco de enfarto do miocárdio globalmente e em diversos subgrupos e diferentes regiões do mundo; b) relacionar alguns marcadores de estilo de vida sedentário (ter carro, televisão, casa) com fatores de risco e o risco de enfarto do miocárdio. Do ponto de vista metodológico, é um testemunho das dificuldades em medir uma variável de exposição tão complexa como a atividade física e demonstrativo da necessidade de haver uma colaboração de estatísticos numa investigação epidemiológica de uma patologia multifatorial como é a doença coronária aterosclerótica. Os resultados baseados no estudo original INTERHEART, numa casuística menor devido a critérios de exclusão, permitiram concluir que qualquer nível de atividade física em tempo de lazer está, de modo consistente, associada a menor risco de enfarto do miocárdio. Isto verifica-se tanto nos países desenvolvidos, em que se têm feito mais estes estudos, como nos países em vias de desenvolvimento, onde há a maior percentagem de cardiopatia isquémica, isto é, um grande potencial de prevenção. No mesmo sentido de outros estudos e ao invés das primeiras investigações epidemiológicas realizadas nos locais de trabalho2, a atividade física laboral mais vigorosa não foi protetora. Podem invocar-se explicações e limitações (interação complexa entre atividade de lazer e ocupacional por fatores confundíveis como, por exemplo, o stress psicossocial que representa um trabalho fisicamente exigente mas em que o indivíduo não tem poder de decisão ou oportunidade para aplicar a sua melhor capacidade/destreza). No entanto, os dados sugerem claramente que o exercício aeróbico é preferível ao esforço isométrico. Este estudo, que teve a vantagem de avaliar a importância da atividade física relacionada com o trabalho e os tempos de lazer e utilizou um método de seleção que permite a generalização de resultados, também tem limitações. Será útil desenvolver estudos que utilizem instrumentos de medição mais rigorosos que os simples questionários, tais como sensores eletrónicos. Porém, este estudo oportuno e relevante deve contribuir para que os clínicos transponham estas evidências para os cuidados preventivos. É verdade que a implementação da atividade física pressupõe a definição e aplicação de orientações gerais e específicas (já existentes), a sua integração nos programas escolares, um ambiente físico favorável (espaços, política de transportes promotora da utilização de meios de transporte, tais como a bicicleta ou andar a pé, segurança). Contudo, os médicos e outros profissionais de saúde não podem negligenciar o papel da atividade física na perspetiva da cardiologia preventiva.

Conflito de interesses

O autor declara não haver conflito de interesses.

References
[1]
J.N. Morris, J.A. Heady, P.A. Raffle, et al.
Coronary heart-disease and physical activity of work.
Lancet, 265 (1953), pp. 1053-1057
[2]
J.N. Morris, M.D. Crawford.
Coronary heart disease and physical activity of work; evidence of a national necropsy survey.
Br Med J, 2 (1958), pp. 1485-1496
[3]
R.S. Paffenbarger Jr, M.E. Laughlin, A.S. Gima, et al.
Work activity of longshoremen as related to death from coronary heart disease and stroke.
N Engl J Med, 282 (1970), pp. 1109-1114
[4]
R.S. Paffenbarger Jr, A.L. Wing, R.T. Hyde.
Physical activity as an index of heart attack risk in college alumni.
Am J Epidemiol, 108 (1978), pp. 161-175
[5]
C. Lopes, A.C. Santos, A. Azevedo, et al.
Actividade física e risco de enfarte agudo do miocárdio após a quarta década de vida.
Rev Port Cardiol, 24 (2005), pp. 1191-1207
[6]
E. Rocha.
Actividade física e prevenção da doença coronária.
Rev Port Cardiol, 24 (2005), pp. 1211-1217
[7]
I.-M. Lee, E.J. Shiroma, F. Lobela, Lancet Physical Activity Series Working Group, et al.
Effect of physical inactivity on major non-communicable diseases worldwide: an analysis of burden of disease and life expectancy.
[8]
P.C. Hallal, L.B. Andersen, F.C. Bull, Lancet Physical Activity Series Working Group, et al.
Global physical activity levels: surveillance progress, pitfalls, and prospects.
[9]
Series on Physical Acivity. The Lancet. 2012; 247-305. Disponível em: www.thelancet.com/series/physical-activity
[10]
S. Yusuf, S. Hawken, S. Ounpuu, INTERHEART Study Investigators, et al.
Effect of potentially modifiable risk factors associated with myocardial infarction in 52 countries (the INTERHEART study): case-control study.
Copyright © 2012. Sociedade Portuguesa de Cardiologia
Idiomas
Revista Portuguesa de Cardiologia (English edition)
Article options
Tools
en pt

Are you a health professional able to prescribe or dispense drugs?

Você é um profissional de saúde habilitado a prescrever ou dispensar medicamentos

By checking that you are a health professional, you are stating that you are aware and accept that the Portuguese Journal of Cardiology (RPC) is the Data Controller that processes the personal information of users of its website, with its registered office at Campo Grande, n.º 28, 13.º, 1700-093 Lisbon, telephone 217 970 685 and 217 817 630, fax 217 931 095, and email revista@spc.pt. I declare for all purposes that the information provided herein is accurate and correct.