Introdução e Objetivos: A diabetes é um dos principais determinantes do risco isquémico após intervenção coronária percutânea (ICP). Os regines de terapêutica anti-plaquetar e hipoglicemiante em doentes diabéticos submetidos a angioplastia com implantação de stent, assim como o prognóstico aos 2 anos, foram estudados num registo prospetivo multicêntrico de âmbito nacional. A presenta análise reporta os resultados referentes às características dos doentes incluídos e aos padrões de prescrição.
Métodos: Entre janeiro e novembro de 2021 foram recrutados 1000 doentes em doze hospitais portugueses. Para além das variáveis clínicas, angiográficas e relacionadas com o procedimento, foram especificamente estimados os riscos trombótico e hemorrágico, através dos cálculos dos scores DAPT e PRECISE-DAPT, respetivamente, assim como registadas as recomendações respeitantes à terapêutica farmacológica, incluindo o esquema proposto de dupla anti-agregação e a sua duração planeada.
Resultados: Considerando toda a população elegível durante o período do estudo, a taxa de inclusão (68,6%) foi elevada (idade média 68±10 anos e 70% dos participantes do género masculino). A indicação para ICP foi uma síndome coronária aguda em 58% dos casos e 63% tinham doença multivaso (Score SYNTAX score 15,6±10,7; comprimento e diâmetro médios dos stents implantados de 26,3±14,8 e 3,0±1., mm, respetivamente). Entre os doentes sem terapêutica anti-coagulante oral concomitante, apenas 49,8% receberam indicação para inibidores potentes do recetor P2Y12 e os regimes de curta duração (< 6 meses) de terapêutica anti-plaquetar dupla foram recomendados em 26,5%, sem diferenças de acordo com o risco hemorrágico avaliado pelo score PRECISE-DAPT (24,6% versus 29,7%, nos doentes de risco baixo versus elevado, respetivamente; p<0,125). Naqueles sob anti-coagulação oral, 62,6% tiveram indicação para regimes < 30 dias, ou apenas terapêutica anti-coagulante (13,6%). Anti-agregação dupla prolongada (>12 months) foi planeada em apenas 0,7% de todos os casos e em 1,2% dos doentes tratados no contexto de SCA. A complexidade da intervenção, mas não a extensão da doença coronária, associou-se a duração da terapêutica anti-plaquetar. A duração da diabetes foi reportada em > 6 anos por 57% dos doentes (HbA1c 7,6±1,7%) e 12% apresentavam complicações microangiopáticas no momento da inclusão. A utilização de fármacos modificadores do prognóstico como os inibidores da SGLT2 (28%) e dos análogos da GLP-1(3%) foi relativamente baixa na admissão.
Conclusões: Regimes de dupla anti-agregação com duração entre os 6 e os 12 meses e baseados principalmente em AAS e clopidogrel foram os mais utilizados. A duração da terapêutica anti-plaquetar dupla relacionou-se essencialmente com a complexidade da intervenção e com a anti-coagulação oral. O controlo metabólico registado na inclusão foi subóptimo na população estudada, tal como a utilização de medicação anti-diabética presentemente recomenda (Clinicaltrials.gov NCT04481997).
Introduction and objectives: Diabetes is a major determinant of ischemic events after percutaneous coronary intervention (PCI). In a nationwide prospective registry, antiplatelet and glucose-lowering treatment regimens, and two-year clinical outcomes were studied in unselected patients with type 2 diabetes undergoing coronary stent implantation. The current analysis describes the population’s baseline characteristics and the prescription patterns of anti-thrombotic and glucose-lowering drugs.
Methods: Between January and November 2021, 1000 patients were enrolled in 12 Portuguese hospitals. In addition to clinical and procedural-related variables, thrombotic (DAPT score) and bleeding risks (PRECISE DAPT) were estimated, and medication (including planned duration of dual antiplatelet therapy) were recorded.
Results: Inclusion rate was relatively high (68.6%) among all eligible patients during the study period (mean age 68±10 years-old, and 70% of male gender). The indication for PCI was an acute coronary syndrome in 58% of cases and 63% had 2-3 vessel coronary artery disease (SYNTAX score 15.6±10.7; mean stent length and diameter 26.3±14.8 and 3.0±1.2 mm, respectively). In patients not on oral anticoagulation, only 49.8% of received potent P2Y12 inhibitors; recommendation for shorter DAPT regimens (<6 months,) was 26.5% and did not differ according to low vs. high bleeding risk (24.6% vs. 29.7%; p<0.125). In those also under anticoagulation 62.6% received a recommendation for <30-day regimens, or no DAPT at all (13.6%). Prolonged DAPT (>12 months) was planned at baseline in 0.7% of the whole cohort and 1.2% of ACS patients. PCI complexity (but not CAD extent) was associated with DAPT duration. Self-reported duration of diabetes was >6-years in 57% (HbA1c 7.6±1.7%) and 12% had known microangiopathy at inclusion. SGLT2 inhibitors (28%) and GLP-1 analogues (3%) were used seldomly at admission.
Conclusions: Standard six-to-12-month antiplatelet regimens were the most widely used, largely with acetylsalicylic acid and clopidogrel. DAPT duration was mostly related to PCI complexity and oral-anticoagulation. Metabolic control was off-target and guideline-directed treatment for diabetes was underused at admission (clinicaltrials.gov NCT04481997)